Beber regularmente de 1 a 3 taças por dia de vinho tinto durante as refeições leva a um aumento da massa óssea, sobretudo em mulheres na menopausa. Este fato tem levantado muitas dúvidas uma vez que a Medicina nos ensina que bebidas alcoólicas são um fator de risco para a osteoporose (no Quadro 1 pode-se ver os fatores de risco maiores e menores para um indivíduo desenvolver osteoporose). Vou tentar esclarecer esse paradoxo.
Fatores de risco para desenvolver osteoporose

Fatores maiores Fatores menores
Sexo feminino Ingestão de cálcio menor que 1 g por dia
Raça branca Sedentarismo
Menopausa precoce Hábito de fumar
Baixo peso corporal Alcoolismo
Pouca massa muscular Ausência de filhos
Familiar com fratura por osteoporose Estresse emocional
Densidade mineral óssea diminuída


A osteoporose é uma situação clínica em que há perda de massa óssea, ficando o paciente mais suscetível a fraturas. Ela ocorre com mais freqüência acima dos 45 anos e a incidência é maior quanto maior for a idade. Acontece em homens, porém mais em mulheres, sobretudo após a menopausa, quando os ovários entram em falência diminuindo muito a produção de estrógenos – o hormônio feminino. Entre as ações desse hormônio está a de impedir a perda e favorecer a formação de osso pelo organismo.

A osteoporose pode ser primária ou secundária. É primária aquela que ocorre por idade avançada e/ou após a menopausa. É secundária aquela devida a outras doenças (hipogonadismo, hipertireoidismo, diabete...) ou substâncias como alguns medicamentos (corticóides, hormônios da tireóide...) e bebidas alcoólicas.

As bebidas alcoólicas causam osteoporose pelo seu efeito tóxico direto, inibindo as células que formam ossos (osteoblastos) e aumentando a ação das que destroem ossos (osteoclastos). O efeito tóxico indireto acontece sobre o estado nutricional do paciente, o metabolismo da vitamina D (encarregada de agregar cálcio ao osso), a produção de hormônios, o fígado e o sistema nervoso.

Mas esse efeito deletério das bebidas alcoólicas sobre o osso só ocorre para quem tem uma ingesta diária superior a 29 g de álcool – o equivalente a 3 taças de vinho. A ingesta moderada de álcool, ou seja 11 a 29 g – o equivalente a 1 a 3 taças de vinho – leva a um ganho de massa óssea. Eis a chave para a compreensão desse paradoxo. Foi publicado em 2000 um Estudo de Epidemiologia da Osteoporose (EPIDOS) feito na França com um número muito grande (7598) de mulheres idosas (todas com mais de 74 anos de idade) que deixou isso muito claro.

Esse mesmo estudo evidenciou que as mulheres menopausadas que tomam de 1 a 3 taças de vinho por dia têm ganho significativo de massa óssea, independente de outros fatores. Sabe-se também que quem toma vinho com moderação junto das refeições ganha mais osso e tem um menor risco de fraturas do que quem bebe outras bebidas alcoólicas. E isso porque o vinho (sobretudo o tinto) é uma bebida alcoólica diferente das outras, rica em polifenóis. Dentre eles o Resveratrol e a Quercetina cujos efeitos benéficos sobre o osso já foram evidenciados pela ciência.

O Resveratrol tem uma estrutura química muito semelhante ao Diethylstilbestrol – um hormônio feminino sintético, disponível no comércio – e mesmo ao Estradiol, como podemos ver na figura 3. Por ter uma estrutura química muito parecida com a dos hormônios femininos, o Resveratrol tem uma série de efeitos semelhantes a eles, o que o faz ser reconhecido pelos cientistas como um fitoestrógeno. E os estrógenos, como bem sabemos, são um dos tratamentos usados para a osteoporose, porque eles impedem a perda e estimulam a formação de osso pelo organismo.

Uma pesquisa feita na França e publicada no ano de 2000 mostra que a Quercetina e/ou seus metabólitos agem nos receptores ósseos, tanto aumentando a atividade das células que formam osso (osteoblastos) como diminuindo a ação das que o destroem (osteoclastos).

Concluindo: quem bebe vinho regularmente e com moderação (1 a 3 taças por dia), junto às refeições, tem ganho de massa óssea e menor risco de fraturas. Contudo, ingestas superiores a isto aumentam os danos sobre o osso (e o organismo de um modo geral) e os riscos de fraturas. Isso é o que a ciência nos mostra.

Dr. Jairo Monson de Souza Filho
e-mail: jairo@monson.med.br

Espero que tenha gostado da nossa abordagem.
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